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Por que “Mulder and Scully Meets the Were-Monster” foi tão sensacional?

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Episódio de Arquivo X desta semana, escrito por Darin Morgan, foi uma divertidíssima sátira, autoparódia e homenagem para os fãs da velha guarda da série!


Eu não sou um cara que tem costume aqui no 101HM ficar comentando episódio por episódio de séries. Geralmente escrevo sobre o piloto e o season finale, e faço minhas resenhas pontuais de algumas lá no Boca do Inferno. Mas, PRECISAMOS FALAR SOBRE O EPISÓDIO DESSA SEMANA DE ARQUIVO X.

Antes da estreia da nova temporada/ revival de Arquivo X, e principalmente quando não havia muitas pistas e informações sobre o caminho que a série seguiria, uma das ideias que eu tinha em mente era justamente que eles estavam tentando pavimentar caminho para uma nova geração de fãs, ainda mais quando anunciada a presença de dois novos agentes – que ainda não deram as caras – Lauren Ambrose como a Agente Einstein e Robbie Amell como o Agente Miller.

Depois de três episódios, sendo o terceiro o SENSACIONAL “Mulder and Scully Meets the Were-Monster” eu estou percebendo que cada vez mais, e de forma mais evidente, que a volta de Arquivo X é mesmo para os fãs da velha guarda da série, tamanho a tonelada de referências, homenagens e autoparódia presentes, e principalmente o nível altíssimo de galhofa, marca registrada de muitos episódios escritos por Darin Morgan, roteirista responsável por este aqui.

Muitas pessoas detestaram e criticaram o episódio na Internet por aí – juro que ouvi gente até falando que parecia coisa de Ed Wood, no mal sentido – mas definitivamente, esses não eram fãs de Arquivo X, não entendem absolutamente nada da série, não sacaram um monte de piadas e referências deliciosamente colocadas em praticamente todos os 44 minutos de duração, e mais ainda, não estão acostumados com os episódios nonsense escritos pelo Morgan mais novo, responsável por apenas seis dos 202 das nove temporadas anteriores, mas quatro deles dos mais memoráveis e fundamentais para uma mudança na direção do seriado.

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Mando nudes?

“Mulder and Scully Meets the Were-Monster” nos leva de volta aos melhores momentos cômicos de Arquivo X, como o inigualável episódio “Do Espaço Sideral”, do próprio Morgan, na terceira temporada, exatamente no mesmo nível de sátira e tosqueira, e tantos outros como o premiado “O Repouso Final de Clyde Bruckman” e “A Guerra das Baratas”.

Os agentes de FBI se veem às voltas com um assassinato onde o principal suspeito é um monstro, uma espécie de Homem-Lagarto, com um visual pra lá de tosco metido numa roupa emborrachada de zíper (muita gente por aí brinca que o Walderrama de A Noite do Chupacabras, de Rodrigo Aragão, foi a inspiração para o personagem). Em nenhum momento o episódio tenta se levar a sério, e o que vemos é David Duchovny e Gillian Anderson nitidamente se divertindo horrores com a autoparódia (e com uma química absurdamente incrível entre ambos).

Mulder, em uma crise de meia idade, está todo descrente com o Arquivo X, resmungando que todos os casos inexplicáveis foram explicados nos últimos anos, uma vez que a maioria foi descoberta como hoax, ou simples explicações naturais, como o degelo, e que claro, hoje todo mundo tem um celular para tirar uma foto da criatura ou o que seja. Isso enquanto ele está jogando seus lápis amarelos no pôster “Eu Quero Acreditar”, que dessa vez, é um pôster da Scully. Só faltou ele comendo as sementes de girassol.

A grande sacada do roteiro inteligentíssimo – e não me venha dizer o contrário – é que o tal “Monstro da Semana”, o Homem-Lagarto, era originalmente uma criatura da floresta que, subvertendo toda e qualquer lógica convencional do cinema fantástico e de terror, foi mordido por um humano, e houve uma metamorfose reversa, com o mutante se tornando um homem.

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Tomou um porre de catuaba e foi mandar mensagem de voz no WhatsApp pra ex no túmulo do amigo… Quem nunca?

Ao tornar-se humano, ele passa a ser acometido pelos nossos desejos, acompanhado por um caminhão de crítica social mordaz velada. A primeira coisa que ele quer fazer ao acordar de manhã é arrumar um emprego – que dois dias depois ele já está de saco cheio! Ele passa a desenvolver todos os vícios e traquejos (ou falta de) sociais inerentes a nossa personalidade, como tomar café, beber, adotar um cachorro, consumir pornografia, mentir sobre sua vida sexual, continuar em um emprego enfadonho por medo de não conseguir se aposentar…

Enquanto isso, Mulder, que questionava se queria passar o resto da sua vida num porão correndo atrás de devaneios e farsas, ao conhecer o monstro e ouvir sua história, a priori nada plausível – como quase tudo no seriado – mas depois ao vê-lo se transformando no lagarto humano, servirá como novo combustível para o agente, que assim como nós, ainda quer acreditar. A marca registrada de Morgan está toda lá no episódio: divertido, experimental, metafísico, metalinguístico e uma mistura de sensibilidade alegre e melancólica ao mesmo tempo.

Para os fãs, há diversos easter eggs em todo episódio que são nada menos que deliciosos. Começa com uma homenagem gritante a Kolchak e os Demônios da Noite, a série que inspirou Chris Carter a escrever Arquivo X.  A versão humana do monstro, batizada de Guy Mann veste-se igualzinho ao Kolchak de Darren McGavin, e em paralelo, sua sugestão que o Homem-Lagarto pode ser morto com um vidro verde atravessado em seu apêndice, era o típico recurso de roteiro usado no televisivo, onde Kolchak era, como Mulder, um crente no meio de céticos, e a série sempre teve esse viés cômico.

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Lápis ao alvo!

Enquanto Mulder e Guy conversam no cemitério, eles estão ao lado de duas lápides, de Kim Manners, famoso diretor e produtor da série, falecido em 2009, e Jack Hardy, diretor-assistente do longa Arquivo X – Eu Quero Acreditar de 2008, dos filmes Premonição, A Vingança de Williard e Natal Negro (todos dirigidos por Glen Morgan) e da série Millneium (também de Chris Carter). No cemitério também pode ser visto outra tumba com o nome de Jerry Hardin, o ator que interpretou o célebre informante Garganta Profunda na primeira temporada, famoso pela emblemática frase “Não confie em ninguém”

O cão adotado por Guy, e em seguida por Scully, chama-se Daggoo, nome de um dos arpoadores de Moby Dick, assim como Queeqeg, o ex-cachorro de Scully, inclusive citado por ela, que surgiu exatamente em um episódio escrito por Darin Morgan, “O Repouso Final de Clyde Bruckman” e foi devorado em “O Monstro do Lago”. E falando em “Clyde Bruckman”, daí vem outra sensacional referência quando Scully diz para Mulder que ela é imortal, surgida de uma teoria dos fãs quando Bruckman, um vidente que sabia dizer quando e como as pessoas iriam morrer (Mulder, por exemplo, faleceria por autoasfixia erótica), não sabia precisar sobre a morte da agente. Além disso, no episódio Tithonus, da sexta temporada, o fotógrafo Alfred Fellig aparentemente troca sua própria imortalidade para salvar Scully.

Para fechar, Guy certo momento é encontrado escondido em um banheiro químico, como o Flukeman do episódio “O Hospedeiro”, que por sinal, foi interpretado por Morgan, e o psiquiatra visitado por Mulder, que prescrevera um antipsicótico para Guy, diz que às vezes os “monstros moram aqui”, apontando para o abdômen, em referência ao episódio “A Fraude”, também escrito por Morgan, onde a aberração de circo Leonard era irmão siamês de Lanny, colado por seu abdômen, que se desprendeu do irmão tentando encontrar um novo corpo, e devorava bem aquela região de suas vítimas. Teve até uma sacanagem com Mulder deitado na cama só de cueca vermelha, tirando um sarro com a infame cena dele saindo da piscina de sunguinha de bombeiro e dando um pito em Alex Krycek na segunda temporada. E ah, não vamos esquecer que o toque do celular de Mulder é a música tema composta por Mark Snow. Genial é pouco!

Certo momento do episódio, Scully diz a Mulder que havia se esquecido de “quão divertido podia ser um caso daqueles”. Nós também nos esquecemos nesse hiato de quase 14 anos, de como também Arquivo X poderia nos divertir em episódios como esse. “Mulder e Scully Meets the Monster” nos lembrou disso. Obrigado, Morgan!

Matéria originalmente publicada no Boca do Inferno
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Prazer, Walderrama dos Santos!

 



795 – O Pesadelo (2005)

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Boogeyman


2005 / EUA / 89 min / Direção: Stephen Kay / Roteiro: Eric Kripke, Juliet Snowden, Stiles White / Produção: Sam Raimi, Robert Tabert; Eric Kripke, Doug Lefler (Coprodutores); Gary Bryman, Joseph Drake, Steve Haim, Nathan Kahane, Carsten Lorenz (Produtores Executivos) / Elenco: Barry Watson, Emily Deschanel, Skye McCole Bartusiak, Tory Mussett, Andrew Glover, Lucy Lawless, Charles Mesure


Eu vi O Pesadelo pela primeira (e única) vez nos cinemas, quando exibido aqui no Brasil. Lembro que até tinha gosta do filme, uma vez que né, naqueles tempos eram pouquíssimos longas do gênero que chegavam às telas grandes (não que hoje seja diferente, mas pelo menos conseguimos assistir mais filmes que não seja da forma, hã, bíblica, digamos assim) e veio com todo um hype por ser a segunda produção da Ghost House Pictures, de Sam Raimi e Robert Tapert, depois do estouro que fora O Grito.

A máxima de que existem filmes que não passam por uma revisão não poderia se aplicar melhor aqui. O Pesadelo é péssimo, com uma história mequetrefe, um carnaval de clichês, um CGI porco, atuações nada inspiradas e um finalzinho daqueles mais chulés possíveis.

Partindo de uma premissa excelente, um possível exercício de horror psicológico que vai se desenhando até seu terceiro ato, e depois, escorre completamente para o ralo quando o filme atinge seu clímax, principalmente da parte que o tal bicho-papão aparece em carne e osso, estragando completamente qualquer mediana tentativa de um filme razoável que vinha se estabelecendo desde então.

O jovem Timmy teve a desagradável experiência na infância de se deparar com o bicho-papão em seu quarto, que acabou matando seu pai, levando-o para a dimensão que existe dentro do armário onde os bichos-papões vivem. Devem ter parado lá na terra do  Monstros S.A. Enfim, Tim cresceu, e interpretado por Barry Watson, nunca conseguiu superar aquele ocorrido, com todos os psicólogos possíveis AND sua mãe (vivida pela Lucy Lawless) dizendo que o pai havia fugido e nenhum monstro o matara dentro do armário, e agora em sua vida adulta, mesmo tendo um bom emprego e uma namorada de família rica, tem medo do escuro e evita lugares com portas fechadas e maçanetas.

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Não olhe agora!

Com a morte de sua mãe, Tim resolve confrontar os seus medos, para exorcizar de vez os demônios e decide passar uma noite na malfadada casa onde todos os seus problemas começaram. Toda a atmosfera “casa mal-assombrada” até vai se saindo bem, com um direção honesta de Stephen Kay, que utiliza até alguns recursos narrativos bem interessantes, como a mistura de cenas atuais com flashbacks do garoto, e a fotografia bastante escura. Apesar de adorar um jumpscare, tem algumas cenas até bacanas, como quando aparece uma pá de fantasmas de crianças para o herói, com um pezinho ali no J-Horror, Mas, como disse lá em cima, nada se susenta ao seu terceiro ato.

O filme vira uma baboseira tamanha, envolvendo o caso de várias crianças que desapareceram raptadas pelo bicho-papão, e a confusão que se torna quando a dimensão da criatura e a nossa vão se misturando, assim como passado e presente (tem um lance meio Scooby-Doo de perseguição onde as pessoas entram por uma porta de um aposento e saem pela outra), até chegar ao seu final bem vagabundo, quando a forma do mostro é revelada, e na verdade é o boneco que Tim tinha medo quando criança.

Outro argumento interessante, do bicho-papão ser a personificação de nossos piores medos, apesar do clichê, daria um bom caldo, em um filme ou roteiro um pouco melhorzinho (também, Eric Kripke, o roteirista, se baseou em um episódio que o próprio escreveu para a série Supernatural), se transforma em um festival de CGI desnecessário na batalha final, onde bastou apenas ao marmanjo quebrar seu brinquedinho para dar cabo definitivamente da terrível ameaça de anos e anos.

Sério mesmo, não sei como em algum momento, possivelmente obscuro da minha vida, na ingenuidade dos meus 23 anos, eu pude gostar de O Pesadelo. Talvez fosse muito amor por Sam Raimi e Robert Tapert, e suas empreitadas de volta no terror após Homem-Aranha, porque de verdade, não há sequer um argumento que salve esse filme do clichê do susto fácil e dos efeitos especiais exagerados, reservando-lhe a mediocridade em que ele adormece em berço esplêndido. Mas como se não bastasse, fez um razoável sucesso de bilheteria (mais de 67 milhões de dólares contra 20 milhões de orçamento) e acabou gerando mais duas continuações direto para o vídeo (que eu nunca assisti, só para constar).

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Exame de vista

 


803 – O Hospedeiro (2006)

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Gwoemul / The Host


2006 / Coréia do Sul / 120 min / Direção: Bong Joon Ho / Roteiro: Bong Joon Ho, Ha Won-jun, Baek Chul-hyun / Produção: Choi Yong-bae, Joh Neung-yeon; Jang Junyoung; Kim Lewis Taewn (Coprodutores); Jeong Tae-sung, Kim Woo-Taek (Produtores Executivos) / Elenco: Song Kang-ho, Byeon Hie-bong, Park Hae-il, Bae Doona, Ko Ah-sung


Sem papas na língua: O Hospedeiro é o melhor filme de monstro do Século XXI. Chupa Cloverfield, Godzilla, King Kong, Círculo de Fogo e todos os outros! E não só isso, ele é o mais ~diferentão, bem humorado, e que por conta da direção exímia e impecável do sul-coreano Bong Joon Ho, o mais plástico, estético, e sensível de todos também.

E tem mais, mistura a fórmula prosaica de filme de monstro com outros elementos em uma maestria tão grande, que é impossível passar incólume a O Hospedeiro. Ao mesmo tempo da narrativa convencional do herói improvável, da família a mercê da criatura e da união na tentativa do resgate e destruição a ameaça, ele possui um tom de humor irônico e rasgado com situações verdadeiramente vexatórias, também traz aventura, um drama familiar e um cavalar comentário sociopolítico e ambiental, como um tapa na cara tanto do governo coreano quanto os americanos.

Começa já com um cientista americano mandando despejar um produto tóxico – e mutagênico, diga-se de passagem – no rio Han, em Seul, por conta de um simples TOC. O funcionário obedece, mesmo a contragosto e dizendo dos perigos daquele ato, e o que veremos tempos depois é uma gigante criatura mutante anfíbia saindo das águas do rio para atacar os banhistas em uma tarde aparentemente normal.

Hie-bong é um senhor de idade que tem uma barraca no local e vive com sua família, o atrapalhado Gang-doo e sua filha pequena, Hyun-seo. Fazem parte também desse núcleo familiar o irmão universitário desempregado, Nam-il e a arqueira Nam-ju. O colapso entre eles acontecerá quando a criatura, brilhantemente criada pela Weta Digital de Peter Jackson, ataca o local, causando pânico e uma série de mortes, e rapta a pequena Hyun-seo, em um descuido do lerdo do seu pai.

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Se ficar o bicho come…

Incialmente ela é dada como morta (a cena do funeral coletivo é de rolar no chão de tanto rir, tamanho o exagero caricato que Bong imprime, fora a atuação perfeita de todos os envolvidos), e todos os que tiveram algum contato com a criatura são colocados em quarentena com risco de uma possível infecção. Até que a menina consegue telefonar para o celular de seu pai, que descobre que ela está viva em algum sistema de esgoto, onde o monstro leva suas presas para digeri-las futuramente. Daí a família foge do hospital e tenta desesperadamente encontrar o covil do monstro para resgatar a menina.

Apesar do humor escrachado e dos elementos de drama e crítica social e todos os subtextos e camadas presentes em O Hospedeiro, ele não deixa absolutamente nada a dever aos clássicos de monstro, com momentos de verdadeira tensão e terror, principalmente na sua metade final, que com certeza vão agradar todos os fãs do subgênero e aquele espectador habitual de blockbusters. E ao mesmo tempo, toda a beleza estética, fotografia e uso brilhante de cores e da trilha sonora, atraem aqueles que gostam de filmes artsy para o lado da produção fantástica, numa amálgama perfeita.

O enredo é baseado em um acontecimento real nos idos dos anos 2000 na Coreia do Sul (não o monstro, por favor) quando um militar americano despejou dejetos tóxicos no rio Han, mesmo contra a objeção de seu subordinado local. Nada mais contundente do que a mensagem pesada contra as mentiras do governo, a inabilidade em lidar com uma crise desse, hã, tamanho, a cortina de fumaça imposta na crise e principalmente a interferência militar americana em outros países, doutrina do governo Bush naqueles tempos.

O Hospedeiro é um SENHOR filme, sendo a maior bilheteria de cinema de um filme sul-coreano (mais de 13 milhões de tickets vendidos – o que significa mais de 20% da população do país) e se tornou o filme mais assistido do país, fazendo sucesso também no resto do mundo até pela sua trama de entendimento global e sua estética que mistura o mainstream com independente, a competência de seus atores, um roteiro inteligentíssimo e claro, a capacidade de Bong Joon Ho, que acabou por catapultar sua carreira, depois nos entregando os igualmente brilhantes Mother – A Busca Pela Verdade e Expresso do Amanhã, sua primeira incursão hollywoodiana.

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Monstlo!


HORRORVIEW – The Hallow (2015)

844 – Cloverfield: Monstro (2008)

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Cloverfield


2008 / EUA / 80 min / Direção: Matt Reeves / Roteiro: Drew Goddard / Produção: J.J. Abrams, Bryan Burk; David Baronoff (Produtor Associado); Sherryl Clark, Guy Riedel (Produtores Executivos) / Elenco: Lizzy Caplan, Jessica Lucas, T.J. Miller, Michael Stahl-David, Odette Annabele, Mike Vogel


O primeiro Transformers de Michael Bay chegava aos cinemas em 2007, quando antes da exibição do filme, um teaser de menos de um minuto com o arremesso da cabeça arrancada da estátua da liberdade, e créditos de uma produção de J.J. Abrams, tomava o mundo do entretenimento cinematográfico de assalto.

Quase 10 anos depois e uma picareta sequência/ spin off/ apropriação indébita de nome/ whatever chamada Rua Cloverfield 10, o found footage que impulsionou o subgênero, junto com uma leva de filmes lançados naquele período (REC, Atividade Paranormal e Diário dos Mortos), Cloverfield: Monstro ainda continua ocupando o trono de um dos mais interessantes e inteligentes sci-fi + filme de monstro dos últimos tempos.

Ponto para Abrams, que conseguiu usar o recém-poder adquirido de seu sobrenome graças ao sucesso estrondoso de Lost e seus mistérios insolúveis (até então), teorias de conspiração e sua fanbase e principalmente, o poder de utilizar a Internet e os virais para promover um filme (aumentando em ordens de grandeza o que fora feito com outro famoso found footage no final dos anos 90, A Bruxa de Blair).

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Cabeças vão rolar!

E outro fator importantíssimo foi a manutenção do suspense e fomentar aquela sensação de incógnita, não revelando absolutamente nada sobre o que se tratava aquele filme, e mais tarde, nunca mostrar o Clover, nome dado ao monstro, durante a campanha de marketing (e somente uma vez em close, em uma cena originalmente não programada, mas que Abrams achou que o público merecia ver mais detalhes do bichão além dos relances).

Como se não bastasse, o filme se espalhou em virais, pistas, debates em fóruns e os chamados Cloverfiled ARGs, alternative reality games que promoveram adições ao filme e complementos a sua história e a própria origem da criatura colossal, que envolvem desde a corporação japonesa Tagruato, onde o personagem principal, Rob (Michael Stahl-David) iria trabalhar – e por isso a festa de despedida – responsável pelas escavações oceânicas secretas próximas a Nova York, a mesma que usou a queda de um satélite governamental como um bode expiatório, ou mesmo a possibilidade do Slusho Drinks (também utilizado em Alias, outra série de J.J.) ter anabolizado uma desconhecida forma de vida, provocando sua mutação, ou que sua composição pode ser feita do sangue ou outro fluído da criatura encontrada no fundo do oceano.

Detalhe: nada disso é explicado ou mencionado no straight forward filme quase de guerrilha de Matt Reeves, e com o brilhante roteiro de Drew Goddard (hoje um dos roteiristas mais promissoras de Hollywood). Está lá apenas a correia e movimentação captadas por uma câmera na mão do ataque da criatura a Nova York e um grupo de pessoas tentando sobreviver àquela noite catastrófica, incluindo aí o drama pessoal de Rob que tenta resgatar sua pretê, Beth (Odette Annable), que ficou presa em um apartamento avariado durante o avanço do monstro, ou suas crias tóxicas que se espalham pelas ruas e metrô. E tudo isso sem as famosas barrigas das fitas encontradas e um verdadeiro rolo compressor depois que as primeiras explosões são avistadas no horizonte de um telhado.

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Vamos fazer uma sextape?

Além disso, Cloverfiled: Monstro é recheado de easter eggs e segredos escondidos pela película, hoje uma espécie de marca registrada de Abrams, como a aparição do logo da DHARMA Initiative, da série Lost, frames escondidos de monstros clássicos do cinema sci-fi como King Kong, O Monstro do Mar e O Mundo em Perigo; mensagens de áudio no final da fita (que ao ser tocada ao contrário, dirá IT’S STILL ALIVE) e até mesmo uma possível fotinho de Clover dentro de Lost.

O único defeito efetivo do ótimo Cloverfield: Monstro é a ultra mega master blaster câmera inquebrável, que parece ser feita de vibranium, que sobrevive a queda de helicóptero, dentadas do monstro e um soterramento, mas já que estamos com o botão da descrença apertado bem fundo, então até dá para relevar esse pequeno detalhe também.

Hoje Abrams é considerado o “novo Steven Spielberg”, algo tanto quanto precipitado, mas é inegável sua importância para a nova cultura pop e o sci-fi, e Cloverfield: Monstro, nada mais que uma bela homenagem a Godzilla, aos demais Kaijus e todos os Big Bugs e monstros gigantes do cinema B, para mim ainda é a sua mais perfeita contribuição ao(s) gênero(s) (chupa Despertar da Força!) e uma verdadeira aula, ministrada em parceria com Reeves e Goddard, de como misturar elementos em uma história transmídia inteligente e fazer um bom found footage.

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Se não tivesse “Monstro” no subtítulo nacional, nem ia perceber…


847 – Espinhos (2008)

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2008 / EUA / 82 min / Direção: Toby Wilkins / Roteiro: Ian Shorr, Kai Barry / Produção: Kai Barry, Ted Kroeber; Iqbal Ahmed, Raj Patil (Coprodutores); Graham Begg; Chad Burris; Jamie Carmichael; Mark Cuban; John Glosser; Todd Wagner (Produtores Executivos) / Elenco: Charles Baker, Jill Wagner, Paulo Costanzo, Shea Wigham, Rachel Kerbs, Laurel Whitsett


O ano era 2009 e tinha acabado de entrar na Paris Filmes para trabalhar na comunicação da distribuidora. Em meio a enxurrada de demanda de trabalho do vindouro Lua Nova, segundo filme da malfadada Saga Crepúsculo, estava em meu job description fazer as sinopses dos filmes (e procurar na Internet aquelas resenhas que falavam bem para colocar nas capas dos DVDs). Foi quando conheci Espinhos, um dos lançamentos direct to video deles.

Obviamente, em um primeiro momento, parecia daquelas trasheiras de dar dó, mas quando peguei para assistir ao mesmo, e não é que foi uma grata surpresa? Esse obscuro, pouco conhecido, completamente independente filme é daqueles exemplos de cinema de guerrilha do terror indie, com bons efeitos práticos e maquiagem, a típica história de cerco e sobrevivência, e bem das inspiradas em O Enigma de Outro Mundo, Cabana do Inferno, e por aí vai.

“Grupo preso em um posto de gasolina atacado por uma criatura parasita mutante precisa lutar pela sua sobrevivência” pode parecer um plot bem batido – e é, com certeza – mas acontece que o diretor Toby Wilkins (apesar de apelar para uma direção muito videoclíptica, com um monte de cortes frenéticos e câmera na mão tremida), que também escreveu o roteiro de forma não creditada junto de Ian Shorr e Kai Barry, entrega exatamente aquilo que o velho gosta, aquilo que o velho quer.

Que é exatamente muita nojeira, gore e efeitos práticos das criaturas, com seus espinhos, deformidades e contorções corporais. Tudo bem, tem lá seus lances ridículos como a mão toda cheia de espinhos andando sozinha, ao melhor estilo Coisinha da Família Addams ou o membro decepado de Ash em Uma Noite Alucinante, mas dá bem para relevar isso. E há uma cena em que uma policial é separada em duas pela criatura, que eleva bastante o conceito do longa.

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Isso que dá segurar muito para ir ao banheiro

O longa começa com um redneck dono de um posto de gasolina sendo atacado por esse estranho parasita espinhento de origem desconhecida, que se alimenta de carne animal e toma conta do corpo de seus hospedeiro, causando uma horrenda mutação. Corta para dois casais: um formado por Polly e Seth, respectivamente interpretados por Jill Wagner e Paulo Costanzo, que decidem acampar para comemorar o aniversário de namoro e outro formado por Dennis e Lacey – Shea Wigham e Rachel Kerbs – dois fora da lei procurados pela polícia que querem fugir para o México e pegam o os dois primeiros como reféns.

Na estrada, eles atropelam um animal infectado pelo parasita, que causa avarias no carro, e eles são obrigados a parar no posto de gasolina deserto de beira de estrada. Ah, vale lembrar que tanto Dennis quanto Lacey são “espinhados” pela criatura. Pronto, ao chegar lá o frentista está todo detonado, Lacey também passará por uma rápida metamorfose ao ser morta e Polly, Seth e Dennis precisaram lutar por suas vidas contra aquele ser mutante que parece ter saído direto de Silent Hill ou da base americana 31 na Antártica.

Com seus curtos 82 minutos de direção, é um filme completamente straight forward, sem perder muito tempo explicando a origem do parasita, sem procurar por soluções espetaculosas, tem apenas seis personagens, os dois casais, o frentista e a polícia rasgada ao meio e até aquela jornada de redenção e engrandecimento de caráter dos personagens.

Como disse lá em cima, o maior pecado de Espinhos é a direção atabalhoada e frenética de Wilkins nas cenas de ataque da criatura – além de uma questão estética, talvez escolha para limitar a visão total da criatura e encobrir algum tipo de restrição orçamentária – que chega até a causar tontura devido a sua velocidade e cortes em excesso, mas também não compromete tanto, porque sabe muito bem dosar com a violência gráfica, o sangue jorrando e gosma na medida.

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Tana-nan tsc, tsc…

862 – Garota Infernal (2009)

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Jennifer’s Body


2009 / EUA / 107 min / Direção: Karyn Kusama / Roteiro: Diablo Cody / Produção: Daniel Dubieck, Mason Novick, Jason Reitman; Brad Van Arragon (Coprodutor); Diablo Cody (Produtora Executiva) / Elenco: Megan Fox, Amanda Seyfried, Johnny Simmons, Adam Brody, Chris Pratt, J. K. Simmons


Olha eu não sei quanto a você, e pode me julgar a vontade, mas eu ADORO Garota Infernal e acho um filme sensacional. Pronto, falei aqui!

Essa comédia de horror deliciosamente escrita pela ex-stripper e ganhadora do Oscar pela sensação indie, Juno, Diablo Cody, dirigida pela ótima Karyn Kusama e produzida por Jason Reitman, é divertida até dizer chega por brincar exatamente com todos os clichês do terror adolescente (e do cinema adolescente como um todo), repleto de humor negro, sarcasmo, sacadas incríveis e uma metralhadora de referencias de cultura pop, de música (o próprio nome original é inspirado na música homônima da banda Hole, de Courtney Love), de cinema e com a Megan Fox absolutamente lindíssima e estonteante no papel principal. E baita trilha sonora!

Sério, toda a narrativa dele, a linguagem empregada e as situações de paródia caricatas fazem o ato de assistir ao filme um deleite. Eu mesmo, já o vi algumas muitas vezes e sempre me divirto e dou risada com os diálogos afiados, situações ridículas, e a forma como ele fala diretamente com seu público e tira um baita sarro de sua cara ao mesmo tempo. E olhe que tem até lá sua boa dose de sangue e violência na versão uncut, aquela que vale a pena assistir.

Watch out boy she'll chew you up

Watch out boy she’ll chew you up

Cody pega todo o american way of life dos subúrbios do interior (aqui perfeitamente chamado de Devil’s Kettle), campo fértil para o estudo de caso adolescente e do seu meio-ambiente do high school, e também do mais banal que existe na fórmula do cinema de terror de drive-in e monta sua crítica rasgada (assim como já fizera em Juno, mas aqui de forma menos dramática e reflexiva e mais escrachada), explorando o velho lance da garota popular do colégio, no caso, transformada em um súcubo do inferno que precisa se alimentar de carne humana para manter-se linda e gostosa!

Jennifer (Fox, papel originalmente oferecido para Blake Lively, recusado por conta de sua agenda com a série Gossip Girl) e sua melhor amiga de infância, a nerd Needy (Amanda Seyfried) vão até um bar ver o show da fictícia banda Low Shoulder, cujo vocalista, Nikolai, é interpretado por Adam Brody, do seriado O.C. Acontece que os membros da banda precisam de uma virgem para sacrificar em um ritual para conseguir sucesso na carreira do show business, já que é muito difícil uma banda de rock independente fazer sucesso já que todas elas são quentes e tem caras gatos – segundo eles mesmos – e querendo ser o próximo Maroon 5, eles oferecem Jennifer ao capiroto – enquanto cantam Jenny (867-5309) de Tommy Tutone – sem saber que a moça não era mais virgem.

Isso faz com que ela retorne literalmente como uma demoníaca criatura maneater, o que colocará à prova a amizade dela com Needy, que ao descobrir o que aconteceu, tentará se colocar contra o desejo carnívoro da amiga morena das trevas, que obviamente vai abatendo os estudantes do colégio de Devil’s Kettle como moscas. Você recusaria um convite para sair com a Megan Fox? Eu truco!

Rainha do baile

Rainha do baile

A quantidade de momentos hilários e referências pop do filme não cabem nessa resenha, mas eles estão lá aos borbotões e é uma das cerejas do bolo de Garota Infernal. Minha preferida é quando o emo do colégio convida Jenny para sair e assistir The Rocky Horror Picture Show, que seria exibido em uma sessão especial no cinema local, e a moçoila diz que “não gosta de filmes de boxe!”. Falando em emo, claro que Cody e Kusama brincam ao máximo com todos esses estereótipos adolescentes, passando pelo capitão do time de futebol americano ao astro de rock bonitão, mas ao mesmo tempo ela também os subverte nas figuras de Jennifer e Needy.

Primeiro Jennifer pode ser a chearleader popular, burra e gostosa, mas ao se transformar na tal garota infernal, ela reverte o papel de vítima para se tornar uma caçadora e colocar em pauta o empoderamento feminino, que em 2009 não fazia nem sombra a força do movimento de hoje em dia, inclusive não captado pelos executivos do estúdio – todos homens, diga-se de passagem – em nenhum momento da campanha de marketing. Hey, isso é um filme para garotas, e não para marmanjos querendo bater uma para uma sexy Megan Fox! Já com Needy – e há uma brincadeira incrível com esse trocadilho, que significa “carente” – sai de cena a nerd frustrada e perdedora, que sim, é melhor amiga da garota TOPE do colégio, tem um namorado, transa, possui personalidade forte e é quem vai salvar o dia, e conseguir sua vingança no final. Score!

Fato é que sinceramente, se você não assistir Garota Infernal exatamente com esses olhos – como um subproduto da cultura pop que brinca com isso a todo momento – que descaradamente exala pelos poros a mensagem de Cody e Kusama, claro que você poderá achar uma droga, ainda mais se quiser ser tiozão e se deixar levar pelo conservadorismo e certo discurso careta e saudosista do cinema de terror. Mas caso contrário, e se de alguma forma você estiver inserido nessa linguagem ou subtexto proposto, e sacar todas as suas referências e mensagens implícitas – e mesmos as escrachadamente explícitas – eu aposto um picolé de limão que você se diverte e acha tão sensacional como eu.

Light my fire!

Light my fire!


 

Horrorcast#114 – A Ilha do Terror (1966)


Veja o trailer do Lovecraftiano, The Creature Below

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Uma criatura marinha, muito gore e efeitos práticos prometidos nessa produção inglesa que tem sua estréia no FrightFest 2016


Creature Below ou A Criatura Abaixo – em tradução livre, ui, conta a história de uma jovem cientista cuja descoberta nos levará aos píncaros da insanidade em uma descida sangrenta até os limites da loucura, ´por meio da descoberta de uma criatura aquática simbiótica anciã. Lovecraft manda lembranças!

O filme irá introduzir um monstro terrível para o gênero, mostrando uma criatura praticamente gosmenta e com efeitos gory, que promete ao público uma nova adição profundamente perturbadora pra o cinema de horror. Isso eles estão dizendo.

É o primeiro longa do diretor Stewart Sparke e do roteirista Paul Butler , dois cineastas independentes da Inglaterra que almejam trazer o horror britânico para o cinema internacional: “Queremos que o espectador sinta um medo de gelar o estômago em saber que existem criaturas insondáveis adormecidas nos lugares mais escuros do mundo e pensem nas consequências se estas forem acordadas”, diz Butler sobre a história.”Nosso amor por filmes de monstros foi uma grande influência ao escrever o roteiro e eu acho que os fans de criaturas ficarão muito satisfeitos com o que temos para eles”, completa.

O diretor Stewart Sparke explica porque os fans de gore e de efeitos especiais no melhor estilo old school vão encontrar algo que os leve ao deleite: “Sabemos que os efeitos usados foram a chave para trazer nosso monstro viscoso à vida de uma forma que deixaria “Lovecraft” orgulhoso. Baldes de sangue, vísceras e tentáculos pontuam momentos de pavor incomensurável enquanto nossa criatura cresce em tamanho e apetite”.

A premiere acontece no FrightFest, que acontece de 25 a 29 de agosto. O trailer está aí embaixo.

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873 – O Caçador de Troll (2010)

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Trolljegeren / The Troll Hunter


2010 / Noruega / 103 min / Direção: André Øverdal / Roteiro: André Øverdal / Produção: Sveinung Golimo, John M. Jacobsen; Lars L. Marøy (Coprodutor); Marcus B. Brodersen (Produção Executiva) / Elenco: Otto Jesperen, Glenn Erland Tosterud, Johanna Mørck, Tomas Alf Larsen, Urmila Berg-Domass, Hans Morten Hansen


Found footage vindo diretamente da Noruega, O Caçador de Troll é uma lição de casa bem feitinha do subgênero (antes da saturação completa, ainda bebendo na fonte dos recentes sucessos de Cloverfield – Monstro, REC e Atividade Paranormal) que mistura cinema fantástico, incorporando a riquíssima mitologia nórdica e humor, funcionando até como paródias dos próprios gêneros nos quais está inserido.

O troll, para quem não sabe, é aquela figura mítica feia, rabugenta, irracional, desproporcional, que se alimenta de carne humana (principalmente se você for um cristão) e é fotossensível a luz do sol, que pode transformar a criatura em pedra quando sua exposição – quem aí não lembra de como Bilbo Bolseiro enganou (ou trollou) até o amanhecer um bando de trolls que queriam cozinha-lo em O Hobbit, livro e filme?

No falso documentário dirigido e escrito por André Øverdal, os trolls existem de verdade e vivem escondidos nas florestas e montanhas ermas da Noruega e sua existência negada e contato com os humanos impedido por uma organização secreta chamada Troll Security Service (TSS), uma espécie de Esquadrão Ultra, dadas suas devidas proporções, e a figura de Hans (Otto Jesperen), o tal caçador do título, que dedicou sua vida a caçar os monstros em uma cruzada solitária e secreta.

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Nada de cozinhar uns hobbits

Um grupo de cineastas estudantes da universidade de Volda resolvem fazer um documentário sobre uma série bizarra de mortes de ursos nas região, que vem sendo abatidos por algum caçador não licenciado, e acaba se deparando com Hans, um taciturno, arrogante e rabugento suposto “caçador de ursos”. Só que ao segui-lo, descobrem a terrível verdade sobre as criaturas.

Após topar participar do documentário (depois de anos e anos de trabalho em segredo), Hans funciona de forma professoral para o grupo e para o público, explicando de forma didática sobre a origem e diferentes raças das criaturas míticas, assim como seus tamanhos, enquanto os caça, tudo captada pela câmera na mão, com uma arma ultra violeta que pode trazer reações diversas aos trolls, desde explodi-los a torna-los estátua, dependendo da idade da criatura.

Todo o absurdo do filme tratado de forma séria, o que o torna ainda mais propositalmente cômico, é amparado também pelos excelentes efeitos especiais, tanto práticos como uso de CGI, dos trolls e seus mais variados biotipos (tem até um de três cabeças!), mas nunca visto como criaturas genuinamente assustadoras, e sim tronchas com seus grandes narizes, peludos e cara feia ao melhor estilo contos de fadas nórdicas.  A fotografia belíssima de Hallvard Braein, das planícies, montanhas e florestas cobertas de neve da Noruega, muito captado em luz natural, é um desbunde que só contribui ao longa.

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Visão noturna

A cartilha do found footage também está toda ali, remetendo principalmente por Cloverfield – Monstro, no que tange um filme de criaturas, e até mesmo o clássico Cannibal Holocaust, envolvendo um grupo de documentaristas que irão até as últimas consequências para conseguir sua matéria, mesmo que isso possa colocar em perigo sua própria vida. E claro que haverá os momentos de correria desenfreada, visão noturna e tudo mais que se tem direito no subgênero, porém, utilizado como recurso narrativo e não apenas estético, como de praxe.

Jesperen é um show a parte. Forjado como se fosse o resiliente e resignado último herói da Noruega, em sua jornada de toda uma vida, o sujeito que se apresenta como um personagem cínico e emburrado vai cativando o espectador, sempre com sua aparência sisuda e austera, dando um ar de seriedade incomparável em meio a galhofa e a situação rídica, com um elenco de apoio (assim como ele próprio), formado por comediantes de seu gélido país tentando dramatizar o impossível a todo momento.

O Caçador de Troll – que até um tempo atrás era exibido à exaustão no Space, tipo os filmes do Rodrigo Aragão – merece sim aquela conferida por um tema riquíssimo, uma série de fatores escritos acima que valem o espetáculo, e a forma como Øverdal trata o tema e o subgênero, resultando um ótimo exemplar do cinema fantástico recente.

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Grande trollagem


885 – O Lobisomem (2010)

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The Wolfman


2010 / EUA / 119 min / Direção: Joe Johnston / Roteiro: Andrew Kevin Walker, David Self / Produção: Sean Daniel, Benicio Del Toro, Scott Stuber, Rick Yorn; Stratton Leopold (Coprodutor); Bill Carraro; Ryan Kavanaugh; Jonathan More (Produtores Executivos) / Elenco: Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Bunt, Asa Butterfield, Art Malik, Geraldine Chaplin, Hugo Weaving


Sabe quando a gente costuma conversar na mesa de bar sobre remakes, e o quanto eles são contraditórios e tudo mais? Vocês fazem isso também, não é? Bom, O Lobisomem de Joe Johnston e estrelado por Guillermo Del Toro com certeza é um desses exemplos práticos que se encaixa perfeitamente nessa discussão.

Afinal, ele gera misto de sentimentos, pelo menos para mim, que no frigir dos ovos acha uma bela porcaria, mas alguns elementos são interessantíssimos, principalmente no que se remete ao campo da homenagem. Claro que infelizmente no final, não acaba justificando sua existência, porém uma coisa ou outra vale a pena salientar.

A primeira é o fato de se fazer uma refilmagem do clássico dos clássicos da Era de Ouro da Universal, O Lobisomem de 1941, dirigido por George Waggner, estrelado pelo lendário Lon Chaney Jr. como o infeliz Larry Talbot, que sofre a maldição da licantropia que dá título ao filme, sob a inovadora maquiagem do mestre Jack Pierce.

Aliás, falemos de maquiagem: quem foi o responsável por transformar Del Toro em um lupino foi ninguém menos que Rick Baker, o sujeito que ganhou o Oscar® por Um Lobisomem Americano em Londres. Assim que a Universal anunciou o projeto, ele entrou no escritório dos executivos engravatados do estúdio querendo trabalhar no filme, afinal, foi exatamente a maquiagem de Pierce no original que o inspirou a se tornar maquiador. Abraçou o projeto e ganhou outro Oscar®, mais uma vez, por conta do monstro peludo.

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Quem nunca gostou de um remake, que jogue a primeira pedra…

Esse é um dos pontos altos do longa, apesar da insistência em trabalhar também com CGI em detrimento dos efeitos práticos em certos momentos, que acaba virando aquela velha coisa de sempre. O outro é o gore sem resguardo no Director’s Cut, com o lobisomem espalhando vísceras, dilacerando jugulares, amputando membros e tudo que o monstro tem direito em sua fúria selvagem uivando para a lua. O figurino e a fotografia também merecem atenção, além da trilha sonora de Danny Elfman.

Mas aí entramos no rol dos problemas do filme, que não são poucos. A direção de Jonhston não compromete, mas ele pegou uma batata quente passou pela mão de diversos diretores, cortes, adaptações, data de estreia adiada e todos aqueles problemas que estamos bem acostumados. Quando ele assumiu a cadeira, a fotografia principal já estava semanas adiantada, após a desistência de Mark Romanek e negativa de Brett Ratner, Frank Darabont, James Mangold, Bill Condon e Martin Campbell, sendo literalmente a última escolha.

O personagem de Anthony Hopkins, como pai de Larry, é um dos outros calcanhares de Aquiles do longa, exagerado, caricato, afetado, mais ainda que o Del Toro com aquela mesma cara de sofrência o filme todo que chega a irritar. Bom, se você assistiu ao filme, sabe que aquele final é uma boa porcaria, não o final final em si, mas aquela resolução de colocar Hopkins como o lobisomem original e aquela briga entre os dois na mansão… ARGH!

Mas assistir O Lobisomem não é uma tarefa hercúlea, nem desagradável. Mas também não é nada daquilo que poderia ter entregado. É aquele cinemão pipoca de Hollywood dos grandes estúdios, que acha que exagero, maniqueísmo, orçamento estourado, metida de pitaco de executivos e efeitos especiais conseguem fazer um bom filme (não estou falando de Esquadrão Suicida, tá?).

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Vai uma gilete, aí?

886 – Monstros (2010)

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Monsters


2010 / Reino Unido / 94 min / Direção: Gareth Edwards / Roteiro: Gareth Edwards / Produção: Allan Niblo, James Richardson; Nick Love, Rupert Preston, Nigel Williams (Produtores Executivos) / Elenco: Scoot McNairy, Whitney Able, Mario Zuniga Benavides, Annalee Jefferies


Monstros gigantes destruindo cidades parecer ser uma temática apreciada pelo diretor Gareth Edwards. Especialista em efeitos especiais, o diretor britânico resolve desenvolver seu drama humano de crítica social misturado com romance e estética documental travestido em filme de criatura, em Monstros, um tipo de preview de muito do que veríamos em seu Godzilla, quatro anos depois.

Aliás, a forma como Edward conduz seu longa, apesar de arrastado e monótono em certos momentos que pode frustrar muito aquele que espera uma espécie de Cloverfield – Monstro, O Hospedeiro ou Distrito 9, ou mesmo a recente empreitada do Lagartão Rei nas telonas, merece ser vista com primazia por uma série de motivos.

Pois estou falando de uma produção de apenas 500 mil dólares de orçamento (sendo que 400 mil foi investido na pós-produção e CGI), uma equipe de seis pessoas e três semanas de filmagem de fotografia principal, ou seja, indie e feito na raça até o talo, o que justifica a preferência por focar mais em seus personagens e na questão sócio-política, trabalhada muito mais como uma metáfora das recentes incursões americanas no Afeganistão e Iraque, e levantando a bandeira da xenofobia e da imigração ilegal. Na cara que não é um filme americano, apesar de toda a pinta.

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Cada close, um flash

Aliás, para driblar o dinheiro de pinga, o diretor se vale de técnicas clássicas de mostrar pouco (ou quase nada, pelo bem da verdade) os monstros, muito mais focado em seus rastros de destruição e a crise socioeconômica, política, ambiental e militar acarretadas pelo seu surgimento, deixando um vislumbre mais completo apenas para seu final, mesmo que carregado de pieguice e de forte apelo emocional. Se para alguns a pouca aparição de Godzilla em cena irritou pacas, Monstros será a frustração da vida, pois o contexto é basicamente o mesmo, só que com muuuuuito menos grana e sem financiamento de uma major.

A trama, escrita por Edwards, começa explicando que há seis anos a NASA enviou uma sonda espacial para coletar amostras de possível vida extraterrestre no sistema solar, e ao retornar, ela caiu na América Central, fazendo com que isso causasse o aparecimento de uma nova forma de vida alienígena, altamente tóxica. As criaturas se reproduziram, mutaram e se transformaram em gigantescos monstros cheios de tentáculos e fosforescência natural, e metade do território mexicano foi considerado como Zona Infectada.

Um muro, maior que a Muralha da China foi erguido para separar os dois países e as forças militares americanas, com aquela famosa preocupação ZERO com baixas civis, vive bombardeando os monstros e destruindo cidades e vilarejos, mostrando toda a truculência yankee e aumentando ainda mais a segregação contra os latinos imigrantes.

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Chamando Cthulhu

Bem, a filha de um magnata da mídia, Samantha Wynden (Whitney Able) está no México e o fotojornalista Andrew Kaulder (Scoot McNairy) é encarregado de escolta-la sã e salva para os EUA. O relacionamento dos dois é o pano de fundo para que saquemos logo Monstros é mais um filme de amor enrustido de sci-fi do que qualquer outra coisa. Inclusive essa relação amorosa mal resolvida e a tensão sexual existente, que fará com que um, digamos, imprevisto, dificulte a saída deles do local por balsa e tenham de gastar uma bela grana e atravessar a zona infectada, à mercê das criaturas.

Aliás, a cacetada de referências e influências de Edwards é visível, ainda mais oriundo dos efeitos especiais e toda a bagagem da ficção científica, inclusive os colossais monstros tentaculares, que obviamente, vemos muito de H.P. Lovecraft por ali, além dos filmes de monstros radioativos dos anos 50, sci-fi B, Spielberg, Geogre Lucas, e por aí vai, tudo capturado quase que por uma filmagem de guerrilha, completamente digital e pegada de documentário.

Não à toa, pela recepção de público e crítica de Monstros, apesar de sua irregularidade narrativa e didática, Edwards foi escalado para a direção de Godzilla – onde hoje podemos concluir que este primeiro serviu como um teste, ou um embrião do conceito embutido no revival do lagarto radioativo da Toho – e na sequência, o aguardadíssimo Rogue One: Uma História de Star Wars, credenciando-o como um dos novos e quentes diretores de sci-fi a se ficar de olho.

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Risco de vida

 

The Crooked Man é a nova empreitada do canal Syfy

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Parece que o canal cansou um pouco dos tornados e monstrengos computadorizados e resolveu apostar no “Homem-Torto”


O canal Syfy preparou uma programação especial para outubro: 31 dias de Halloween. Voltada ao público americano, será destinada ao horror e fantástico, marcando também a estréia de cinco filmes originais.

O primeiro a ser anunciado é o longa The Crooked Man. A história girará em torno de Olivia, uma jovem que ficou traumatizada depois de ter presenciado a morte de sua amiga após ter cantado uma música sinistrona a qual se referia a um tal de Crooked Man (ou Homem-Torto), que ficou famoso em Invocação do Mal 2. Depois de seis anos, ela retorna a cidade natal e o mal continua à sua volta, forçando a moça a confrontar o mal de uma vez por todas.

Com a estréia marcada para o 1º de outubro, o longa conta com a presença de Michael Jai White (sim, aquele que fez o Spawn, lembra?), Amber Benson (Buffy A Caçadora de Vampiros) e Dina Meyer (Tropas Estelares, Jogos Mortais). Infelizmente o canal nacional não divulgou nada sobre algum tipo de programação especial para o a data ou o lançamento destes longas originais por aqui.

Enquanto aguardamos, confira abaixo algumas imagens, o pôster e trailer dessa belezura.

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Review 2016 #56 – The Greasy Strangler

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Ridiculamente bizarro e diferente de qualquer coisa por aí, é uma experiência para poucos


No exercício da crítica cinematográfica, buscamos encontrar os melhores adjetivos e formas de descrever os filmes assistidos, sempre a partir de uma experiência pessoal, porém de forma objetiva. Por vezes nos deparamos com produções que desafiam essa lógica. The Greasy Strangler é definitivamente um desses. Tentar traçar qualquer pensamento coerente sobre essa aberração é quase impossível, mas tentarei explanar alguns comentários sobre.

Pai e filho, Big Ronnie e Big Brayden, respectivamente, vivem juntos em uma relação familiar doentia. O pai é um velho tarado e sem noção, extremamente controlador. Ele manipula emocionalmente seu filho, um homem adulto com algum tipo de retardo, para que este não o abandone. Vestidos de camisa e short rosa, os dois homens de aparência horrível trabalham como guias turísticos especializados na subcultura da disco music. Eles passeiam pela cidade levando pessoas igualmente feias para lugares desinteressantes e sem qualquer legitimidade – Ex: “Foi aqui nesta casa amarela que os Bee Gees compuseram a letra de I Started a Joke, em 1968”.

You’re a bullshit artist!

Paralelo a isso, as noites da cidade são aterrorizadas por uma monstruosidade conhecida como o “Estrangulador Gorduroso”, uma figura estranha e nua, coberta em um tipo de gordura (óbvio), que estrangula (óbvio²) pessoas e arranca seus olhos para comer. Nesse ponto da vida já vi minha cota de estranhezas no mundo real e cinematográfico, mas essa criatura realmente levou um prêmio. O monstro é tão grotesco, que me arrancou um sentimento imediato de repulsa e incômodo que nunca antes havia sentido. O horror rapidamente dá lugar à um riso nervoso, quanto mais a criatura é exposta em toda sua ridiculisse. Com a bunda de fora e um pênis pontudo e falso balangando entre as pernas, não é possível levá-lo a sério.

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A trama do filme gira em torno de um relacionamento desse filho problemático com uma mulher igualmente estranha, que gera ciúmes no pai – que, bingo , é o estrangulador gorduroso. A promessa de choque não têm muito haver com gore, que é bem pouco, apesar de perturbador. O que realmente incomoda é a nojeira envolvendo litros de banha sendo aplicados em alimentos e pessoas. Ou melhor, isso é UMA das coisas que incomoda.

Esperamos do cinema um certo padrão estético de pessoas bonitas, charmosas, carismáticas ou minimamente agradáveis ao olhar. Aqui, há uma completa subversão dessa expectativa. Todos os personagens são muito, mas MUITO feios, completamente fora de quaisquer regras de beleza. A bizarrice é abraçada e louvada e eles mesmos se admiram, mas não existe sequer uma figura minimamente charmosa dentro do convencional. Há quem possa comparar esse estilo com o do Papa do Trash, John Waters.

Além da quebra total com esse paradigma estético, o diretor Jim Hosking, que fez o fraquíssimo segmento da letra G, em ABC’s da Morte 2, também abusa da repetição. Ao longo do filme, existem várias cenas em que ocorre uma quebra no desenvolvimento e o filme literalmente trava em discussões e situações banais e sem propósito que servem apenas como provocação, para irritar o público. O final abdica de qualquer tipo de sentido lógico, até mesmo dentro de sua própria falta de noção. Resta aí uma grande dúvida: Um filme que se propõe a ser boçal, idiota e irritante e atinge esse objetivo com louvor, deve ser considerado um bom filme ou simplesmente um filme boçal, idiota e irritante?

A provocação e desvirtuação estética e narrativa que Hosking propõe é válida e sempre muito relevante, no entanto a experiência cinematográfica em si não vale a pena para quem não está interessado nisso.

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2.5 litros de banha de porco para The Greasy Strangler

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Review 2016: #57 – Morgan

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Um filme confuso que não consegue se decidir entre sci-fi, ação, drama ou terror


Em um ano em que cineastas estreantes marcaram presença de forma brilhante no horror, Luke Scott decepciona e parece ser uma exceção. Filho de Ridley Scott, lançou-se no mundo do cinema com o longa Morgan, ficção científica com elementos de horror. Ao contrário de seu pai, que tem entre seus primeiros longas, Alien: O Oitavo Passageiro e Blade Runner, o Scottinho não mostra a que veio e entrega um filme sem personalidade e pouco memorável.

O título do filme refere-se a uma garota criada em laboratório, através de manipulação genética avançada. Interpretada por Anna Taylor Joy, mesma atriz que fez Thomasin em A Bruxa, Morgan é um dos pontos centrais do filme, mas engana-se quem pensa que ela é a personagem central do filme. Kate Mara, no papel de uma consultora de controle de riscos, opera como uma espécie de antagonista à Morgan.

As tramóias científicas experimentais de Morgan se dão em um complexo de laboratórios totalmente isolado, em uma floresta típica da fronteira entre EUA e Canadá. Lá, todos os funcionários vivem em uma espécie de micro-comunidade que existe em torno da pesquisa central lá desenvolvida: criação de seres humanos artificiais por motivos escusos e obscuros. Mais especificamente, tal ser humano já foi criado – Morgan, uma garota pálida, de cabelos e sobrancelhas platinados, com um tom de pele meio azulado, quase uma white walker de Game of Thrones.

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Sabe nada…

Seguindo uma das grandes tendências do cinema atual, que é a utilização de câmeras “amadoras” como forma de registro e construção narrativa, somos introduzidos a Morgan por meio de imagens de uma câmera de vigilância, na qual ela salta sobre uma mulher e lhe aplica múltiplas facadas no olho. Tão específico que é de se imaginar que haja algum simbolismo por detrás da ação. Só imaginação…

Em decorrência de tal incidente, a hiper metódica Lee Weathers (Mara) é convocada para prestar uma consultoria, na qual deveria analisar os riscos que o projeto Morgan apresenta. O risco acaba se revelando muito maior que o esperado, conforme Thomasin …Morgan se transforma em uma máquina de matar, ao melhor estilo Soldado Universal.

A temática abordada por Scottinho é bem semelhante ao que seu pai fez nas histórias de Ripley e Deckard. Inteligências artificiais vivendo entre os humanos, personagens femininas fortes e combatentes, questionamentos modernos e interessantes. A diferença é que em Morgan, esses elementos são da profundidade de um prato de sopa. Apesar da boa atuação de Anna Taylor Joy, tudo a seu respeito fica relegado ao campo do óbvio e do que é dito por outros personagens. As próprias interações com os cientistas do laboratório só é perceptível porque nos é apontada logo no começo, por alguns deles. Há muita exposição e explicação sobre aquelas relações, mas há pouca exibição de afetos.

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O silêncio do lago

Um dos maiores exemplos disso é a Dra. Amy, interpretada por Rose Leslie (Você não sabe de nada, Jon Snow). Ao longo do filme, a relação entre ela e Morgan é frequentemente comentada por todos e até exposta em alguns flashbacks. Mas a própria Amy não tem desenvolvimento algum! Do começo ao fim, continuo não a conhecendo e não me interessando por seu destino. No último ato, quando Morgan entra em um ritmo frenético estilo slasher movie, a morte dos personagens não alcança o impacto desejado, porque ninguém se importa.

Essa transformação, ainda que esperada, demonstra uma certa falta de objetivo do diretor, que parece não saber que tipo de filme gostaria de fazer. Apesar de esteticamente consistente, o tom do filme e o foco parecem alterar constantemente, com a mesma instabilidade emocional de sua personagem principal.

No fim das contas, não é um bom sci-fi, não é um bom drama e nem um bom terror. Visualmente ele até impressiona, graças às belíssimas imagens resultantes de um cenário magnífico e equipamentos de primeira qualidade, mas algumas tomadas, principalmente em uma rápida perseguição de carro, parecem comerciais de televisão, tão desprovidas de personalidade e objetividade.

Tudo indica que o sobrenome Scott pesou na produção do filme. Imagino se outros diretores mais promissores tivessem acesso aos mesmos recursos…

2.5 organismos artificiais para Morgan

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Não alimente as criaturas artificiais


Review 2016: #59 – SiREN

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Ocultismo, monstruosidades e diversão são as palavras chave


SiREN é a versão em longa-metragem do segmento Amateur Night, parte da antologia V/H/S, lançada em 2012. Ao passo que V/H/S se transformava em franquia, hoje com três filmes, os fãs iam especulando e torcendo por versões longas de alguns segmentos mais interessantes, o que, finalmente, se tornou uma realidade.

Em Amateur Night, três amigos saem para festejar , enquanto filmam tudo graças a uma microcâmera instalada nos óculos de graus de um deles. A ideia era fazer uma sex tape com alguma garota avulsa. É nesse rolê “bem intencionado” que conhecem uma garota aparentemente safadinha (e estranha) e conseguem levá-la para um quarto de motel. Malandramente, a menina inocente se envolve com eles só pra na hora de levar madeirada, poder comê-los, no sentido antropofágico da coisa, para em seguida meter o pé pra casa.

Muito pouco do original chega até esse novo filme, que faz uma série de mudanças necessárias para essa transposição de formato (curta-metragem para longa). O aspecto found footage é o primeiro a ser abandonado, cedendo lugar a uma estética convencional. Um alento para aqueles que já estão de saco cheio das câmeras tremidas.

Considerando as limitações intrínsecas da filmagem em primeira pessoa, tal decisão mostrou-se muito sábia e abriu uma série de novas possibilidades. Podemos até considerar esta uma decisão corajosa, já que a câmera na mão é garantia de um custo mais baixo e retorno fácil. Não que SiREN tenha um orçamento alto, pelo contrário até. Sem nenhum rosto conhecido (além da atriz que faz o monstro), e sem muitas estripulias visuais, o filme é bem simples e não esconde o baixo orçamento.

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Produzindo um bebê de Rosemary

A trama também passou longe de Amateur Night com a inclusão de uma história, coisa que o segmento original não tinha e nem sequer necessitava. O monstro que dá título ao filme, “Siren”, remete à mitologia grega, assemelhando-se um pouco a figura das sereias, porém misturando elementos de pássaros ao invés de peixes. Com uma voz hipnótica, seria capaz de seduzir qualquer pessoa, colocando-os em um estado de suspensão. A liberdade criativa dos autores acrescentaram alguns elementos por conta própria, como uma cauda estranha, muito semelhante à criatura do filme Splice – A Nova Espécie, além de uma relação com o ocultismo – ela é invocada por um bando de satanistas sacrificadores de bode.

A besta invocada é então escravizada e “sequestrada” por um figurão metido nas artes das trevas, que coordenada uma espécie de cabaré do inferno, um lar para todo tipo de perversão. Lá, ela é batizada de Lilith (ou Lily) e forçada a se prostituir, usando sua voz e a imagem de seu corpo para dar prazer aos homens, sem nunca tocá-los. Basicamente, o sujeito cafetinou um demônio. OUSADO!

É só após a introdução à criatura que o plot dos amigos dá as caras. Aqui, um grupo de quatro que inclui dois irmãos e dois amigos saem para comemorar a despedida de solteiro de um deles, no melhor estilo Se Beber, Não Case. Durante a comemoração regada à bebida e cogumelos alucinógenos, eles vão parar no tal antro diabólico e um deles acaba por libertar a Lilith, que se mostra obcecada por seu salvador.

Let it go, let it go, can’t hold you back anymore

Let it go, let it go, can’t hold you back anymore, let it go, let it go, turn my back and slam the door!

Curioso notarmos que o satanismo e a presença do mal como ameaça está em alta no cinema de terror. Basta olharmos para alguns dos grandes títulos deste ano e fica claro o poder das trevas – A Bruxa, The Blackcoat’s Daughter, O Lamento e Baskin estão no meu top 5 e todos lidam com esse tema, mesmo que de formas extremamente distintas, e claro, temos aí o Invocação do Mal 2 também só para constar

Todas essas modificações já apontam para um caminho diferente, mas ainda há uma outra diferença considerável e importantíssima: SiREN abraça outro tom completamente, marcado por uma comicidade notável. Existem momentos em que o filme claramente tem como objetivo fazer rir e o faz sem a menor vergonha. Quando não consegue ser genuinamente engraçado, o faz pelo ridiculismo. Mas não se engane: este não é um terrir nem nada, porém esses momentos são recorrentes e tornam a experiência bem divertida.

A abordagem mais descompromissada sobre tema, o monstro em si e o vilão caricatural dão ao longa um aspecto oitentista super natural. Diferente de obras que tem como objetivo homenagear e fazer referência à um período específico, o que chamamos de throwbackStranger Things, The Mind’s Eye e Beyond the Gates são alguns exemplos, – SiREN tem um grau de semelhança com os anos 80 que é natural. É quase como se tivesse sido feito trinta anos atrás e redescoberto apenas agora. O final, brilhante diga-se de passagem, reforça ainda mais essa vibe.

Não leve SiREN a sério, já que o próprio filme não o faz, e então irá se deparar com uma produção honestamente divertida e simples, quase juvenil, com um dos universos mais criativos e curiosos do cinema de gênero em 2016.

3.5 sanguessugas para Siren

Onde você vai estar quando a onda do cogumelo bater?

Onde você vai estar quando a onda do cogumelo bater?

O relato de um sobrevivente da exibição de King Kong em 1933

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Vim, vivi e venci todas as versões do Rei dos Reis nos cinemas nesta crônica fictícia


“Venham todos, venham todos! O que verão a seguir ficará para sempre em sua memória! Uma criatura que sobreviveu através do tempo, esquecida da humanidade! Conheça hoje Kong, a oitava maravilha do mundo!”

Prólogo

O ano é 1933. A três quadras do theatro vejo os holofotes no céu indicando um grande evento. Começo a escutar alguns batuques rústicos típicos de tribos africanas e conforme vou me aproximando ao Radio City Music Hall, estes sons vão aumentando e aumentando… Fico um pouco apreensivo e começo a matutar o que diabos estou fazendo prestes a entrar no Radio City. Multidões vão se aglomerando e sou recepcionado por um chefe curandeiro e sua máscara feita de palha. Através dela vejo seu olhos esbranquiçados e ameaçadores, de certa forma me alertando do que viria a seguir. Subo minha visão e, em meio ao aglomerado de pessoas murmurando “O que deve ser? Será tão assustador assim?”, vejo na marquise brilhante o nome King Kong. Mal sabia que este seria o começo do fim e que sobreviveria tantos anos para contar-lhes a vida deste pitoresco animal que lhes descreverei abaixo. É um relato ameaçador, cru e frio portanto, siga por sua conta e risco.

 

Primeiro capítulo – A apresentação

 

Com estreia simultânea nos dois maiores cinemas da época de Nova Iorque – o já citado Radio City Music Hall e o Roxy – e vendendo todos os dez mil ingressos postos à venda, após cerca de mais ou menos uma hora de projeção somos apresentados ao Rei dos Reis. O primata minaz, valente e eufórico é posto em tela para arrancar aquele grito espontâneo da garganta de todos: KONG, a maior criatura que já andou sobre a terra!

Com direção de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, a premiere não poderia ter sido melhor e o lançamento do filme se tornou o maior de sua época com os incríveis 90 mil dólares em dois dias! Lembrando que estávamos em meio à Grande Depressão, era questão de tempo recuperar os 670 mil dólares investidos e na primeira semana acumulou-se incríveis 2,8 milhões. Todos queriam ver o grande gorila em cena quebrando toda a cidade e, talvez, sentir pela primeira vez o verdadeiro medo crescente conforme o andamento da projeção.

Na trama somos apresentados ao cineasta Carl Denham (vivido por Robert Armstrong), cuja audácia se resume a se aventurar pelo mar adentro a fim de achar a Ilha da Caveira, um local perdido e esquecido pelo mundo para realizar seu maior e mais corajoso filme: conseguir registrar a maior criatura jamais vista. Com o suporte da única atriz à bordo do navio, a bela Ann Darow (eternizada por Fay Wray), ele segue rumo à desgraça iminente. Não precisaria dizer que, além de arriscado, seria perigoso demais literalmente jogar-se aonde o vento te guiar para que possa encontrar uma ilha cujo conhecimento e veracidade dá-se somente por um mapa velho feito por um náufrago norueguês.

Aguardando o meu prometido

Aguardando o meu prometido

Com a sorte e ajuda dos deuses dos mares, a ilha é avistada e sua longa e velha muralha é o primeiro sinal de que é melhor ficar longe dali. Mas como a megalomania de Denham é maior, ele e seu time contratado desembarcam no local e presenciam um ritual estranho, mais parecido com um casamento simulado entre uma jovem e um aldeão com máscara de macaco, a mesma pantomima que vira em frente ao Radio City. Aquela máscara não era parte do ritual, e sim uma representação do futuro marido da jovem, o grande e temido Kong, seu Deus. Seria uma dádiva ser escolhida ou uma sina de ter nascido bela e ser fadada à morte prematura?

Fato é que, durante a cerimônia, os locais avistam Ann, a Deusa Branca com cabelos dourados. A escolhida por Kong e talvez profetizada pelo curandeiro da tribo. A beleza nunca vista na ilha, a perfeição para seu Deus e, talvez a paz em sua comunidade. Como a troca “amigável” entre Ann e quatro de suas melhores jovens não foi concretizada de forma solícita, a tribo resolve realizar à sua própria maneira o considerado certo para eles: sequestrar a bela loira e oferecê-la a Kong. “Mas quem é Kong, afinal de contas?!” me perguntava. Mal sabia que o monstro supremo apareceria em cena.

Ann está amarrada em dois troncos fincados num altar. À sua frente começam a cair árvores, com a mesma facilidade que cairiam gotas d’água numa chuva. A terra estremece e você, inconscientemente, começa a se segurar em sua poltrona. Algo está chegando e o calafrio, que não é do vento e nem do frio, arrepia sua espinha num nó dado em seu coração que te faz segurar sua respiração. O que é?! Arrebatando as árvores à sua frente, Ann – assim como nós – se depara com uma criatura feroz medindo aproximadamente oito metros e algumas toneladas. Batendo em seu peito com ânsia e demonstração de que ele é o Rei e dominador do local, Kong é visto pela primeira vez.

Foi comum ouvir suspiros, gritos, desmaios e até euforia quando visto pela primeira vez. Era jovem na época e fiquei num misto de medo e admiração, pois aquela monstruosidade, mesmo que ameaçadora, era algo jamais visto por ninguém na face da terra. Merian C. Cooper desde criança foi alguém que também ficou abismado com a beleza às avessas dos gorilas na infância – poderá ler o relato de outro sobrevivente aqui sobre suas influências desde infante – e seu imaginário, com um ponto de partida da fatídica Nova Iorque devastada e seu sonho de um macaco gigante destruindo toda a cidade, começou a dar vida ao rei que hoje conhecemos. Mas tal processo foi doloroso e com certeza trabalhoso demais.

As sequências em que vemos criaturas pré-históricas ou monstros criados pela mente de Willis H. O’Brien – responsável pelo longa O Mundo Perdido de 1925 – e executados pelos hoje cultuados Ray Harryhausen e Phil Tippett, demoravam, no mínimo, 20 horas para uma pequena cena. Imagine que para take em stop-motion os moldes das criaturas eram ajustadas num intervalo de um minuto e, para cada um segundo em tela, demorava uma tarde para ser concluída! Por conta destas e outras técnicas usadas, o filme demorou longos oito meses para ser finalizado. E demoraria mais, caso a inventividade e inteligência dos envolvidos não viesse à tona.

Saia daqui, mosquinha

Saia daqui, mosquinha

Com a selva de Zaroff – O Caçador de Vidas, a vila dos nativos de Ave do Paraíso e a grande muralha de Rei dos Reis, a produção foi agilizada – em sua proporção – e o longa foi tomando seu rumo próprio em meio à produções minimalistas e cuidados excessivos em tentar fazer uma obra jamais vista. E conseguiram! O medo era tão bem transpassado da tela para o espectador que em determinados momentos você sentia a angústia dos personagens ali expostos. E realmente era um medo único e verdadeiro…

Fay Wray era posta na mão de Kong e os técnicos a fechavam-na para as cenas entre o primata e a linda moça, mas, como um dos dedos era quase preso à sua cabeça e à medida em que a mão ia se fechando, Fay realmente ficou desesperada e os gritos, medos e pânico eram reais. Numa das tomadas em que quase a atriz desmaiou, Cooper interrompeu imediatamente as filmagens e talvez ali, ele realmente percebera que conseguiu extrair o verdadeiro sentimento de pavor talvez nunca explorado: o medo do irreal, do impensável e do inimaginável. Como não senti-lo quando se vê o desespero de seu semelhante exposto na tela?

A Besta, A Oitava Maravilha, O Macaco, O Rei Macaco e, apenas Kong, eram possíveis títulos em que se trabalhavam, mas nenhum tão imponente quanto o sugerido por um produtor que escreveu este nome no roteiro e foi embora para casa: King Kong. O rei dos reis nascia num filme incômodo, violento e amedrontador. Ali, o primata tomava seu lugar de direito e o mundo o conheceria como a oitava maravilha. Claro, para aqueles que o enfrentasse , pois em Londres, no Easter Sunday, cerca de 12 mil pessoas desistiram e rejeitaram a ideia de encará-lo. Hoje creio que elas tenham feito o correto.

Seu legado havia começado e, como nunca é o bastante, o inevitável aconteceu e sua cria ganhou vida.

 

Capítulo 2 – Laços de Sangue

 

No mesmo ano de 1933, porém com um orçamento menor do que a metade do que lhe foi dado para King Kong e com lançamento às pressas antes do natal, O Filho de King Kong era lançado. Com direção de Ernest B. Shoedsack e o retorno de Carl Denham, agora amargurado e arrependido pelo que fizera com Kong, o curto/longa-metragem – cerca de 1 hora e 10 de filme – feito às pressas é com certeza passível do esquecimento e desnecessário, porém, com uma característica bem peculiar que o fez dar rumo à todo o legado de Kong.

Com desgosto e angústia em seu coração, além de processos e intimações aos tribunais para prestar contas sobre a sua responsabilidade de trazer o gorila à cidade grande, Denham decide fugir e partir numa viagem sem volta para deixar seu passado de lado e ter uma nova vida. Mal sabia ele que a Ilha da Caveira seria novamente seu destino e uma mocinha simpática e tão audaz quanto ele (interpretada por Helen Mack) entraria em seu destino como uma das personagens mais importantes para que se ditasse uma nova abordagem para Kong e para o resto de sua vida.

A pequena, mas forte, Hilda Petersen, após avistar o pequenino Kong – que teria, em primeira instância, o nome de Kiko -, por sua vez preso numa poça de areia movediça, se vê no dever de ajudar um ser “indefeso” e “incapaz”. Após o consentimento, mesmo que a contragosto, de Denham, a dupla ajuda o gorila a sair da armadilha natural e a empatia entre a criatura antes temida por tudo e todos nasce, fazendo com que o primata seja enxergado não como um ser irracional, mas sim como um bicho que poderia ser entendido, amado e talvez “domesticado”.

Esta é a única contribuição que o agora cômico, adorável e pequeno Kong tem para dar pois, no contexto geral, esta continuação da história anterior chega a ser infiel e implausível com o temível e famigerado monstro que aterrorizou a todos nós. Uma afronta e uma decepção ver seu legado, sua cria e seu laço de sangue, ser retratado como algo adorável. Lembrando de como fiquei assustado no cinema naquela época vendo o principal monstro criado até então, este filme foi para mim execrado da história que Kong deixou em aberto. Mas houve alguém, mais tarde, que ousou retratar novamente e tentar ser fiel à história que eu e poucos sobreviventes tivemos a sorte de presenciar e estarmos vivos até hoje para contar.

Prazer, sou o Kiko, ops, o Kong Jr.

Prazer, sou o Kiko, ops, o Kong Jr.

Em 1976 o italiano Dino de Laurentiis decidiu recriar a história original com um certo tom mais profissional e King Kong ganhou as telas novamente. Isso depois de algumas desventuras de uns produtores japoneses que nem me atrevi a assistir. Com  John Guillermin a cargo da direção – especialista em filmes com a temática de desastres naturais e/ou aventuras como A Maior Aventura de Tarzan, El Condor e Inferno na Torre – a nova empreitada de Kong foi lançada e, mais uma vez, ofuscada por alguns elementos, ouso dizer, enfadonhos para a nova visão de um filme datado, diferente do original, que hoje não funciona mais.

Há alguns termos que gosto de usar, e o que melhor define esta versão de 76 é: não envelheceu bem. A experiência máxima de terror vivida nos longínquos anos 30 foi algo que nunca mais presenciei, e como dizem “mesmo sabendo da adversidade que o espera, o corajoso precisa enfrentar o mal iminente pois prefere a possibilidade da dor à certeza da covardia”, assisti convicto de que a história se manteria no mínimo fiel ao que fora proposto antes. Até tentou, mas não conseguiu. E antes mesmo de começar o filme o problema já era certo…

Quando o protótipo do braço de Kong foi finalizado e De Laurentiis chamado para ir ao estúdio ver o teste dele em ação, a mão estendeu-se em sua direção e o dedo do meio começou a desenrolar-se lentamente para si. Resultado: o produtor enfezado destruiu o braço e mandou-lhes construir outro, desta vez, com a supervisão do consagrado Carlo Rambaldi, responsável pelos efeitos especiais de O Planeta dos Vampiros, A Mansão da Morte, Prelúdio para Matar e outros. O esforço de Rambaldi foi reconhecido, mas nem tanto assim.

Ele construiu um primata de 12 metros, pesando seis toneladas e meia para que o gorila amedrontasse mais e mais, custando cerca de 500 mil libras para ser finalizado, onde o mesmo, no total, apareceu por apenas 15 segundos em tela. Este longa estava fadado ao insucesso e esquecimento, porém, os jovens da época não possuíam o discernimento de que este Kong não fazia jus ao monstro introduzido em 33 e, em bilheteria, o sucesso foi ótimo.

Talvez hoje um destino completamente diferente Kong teria tomado caso Roman Polanski tivesse sido o diretor, como havia se planejado tempos antes, ou se Meryl Streep não tivesse sido considerada “não atraente” por De Laurentiis, e substituída por uma moça desconhecida em seu primeiro papel, uma tal de linda (e louca) Jessica Lange no papel de Dwan. Lange desenvolve com perfeição o papel sedutor de uma moça aproveitadora, mas ingênua demais a ponto de não saber o ponto em que o dinheiro não deve ser prioridade. Este é o ponto para que o final seja o mais ambíguo da cinessérie e da história e legado de Kong, pois: foi a Bela que matou a Fera ou a Bela que deixou a Fera ser morta?

Saúdem o rei!

Saúdem o rei!

Jeff Bridges, neste caso interpretando o paleontólogo Jack Prescott, deixa na cena final um sentimento amargo e rancoroso contra Dwan e indignação contra Kong. A que ponto a confiança da besta milenar fez com que a traísse, não? Mas, de qualquer maneira, o retratado aqui é bem inferior ao resultado perfeito do original e faz com que outro filme tome seu posto de readaptação da história original. Porém, antes deste, houve uma tentativa de frustrada de se ganhar algum crédito fácil em cima da criatura, até então, já considerada alvo e vitimizada por toda a humanidade.

King Kong 2 foi algo com que não merecia citar neste testemunho ávido por alguém que admira e teme ao mesmo tempo a figura do gorila, porém, ele foi lançado 10 anos depois com a direção novamente de Guillermin e agora com o protagonismo de Linda Hamilton (Colheita Maldita, O Exterminador do Futuro). Kong foi mantido vivo por durante uma década após inúmeras cirurgias e tentativas em deixá-lo vivo até que, em última instância, implantam um coração mecânico no bicho para que possa viver e aterrorizar novamente as ruas da grande cidade. Neste longa existe até a Lady Kong, a fêmea do rei e futura parceira…

Execrável e passível de nervosismo – nem há graça nesse longa, a não ser que goste de filmes assumidamente ruins. King Kong 2 só tem um acerto de alguém que nem sequer está no filme: Peter Weller recusou o papel para “tentar” algo melhor com Robocop – O Policial do Futuro. Sábia escolha! No que se diz respeito à trama, violência e afins, nada a se dizer a não ser que este comprova que nenhum outro filme se equiparou ou fez juz ao sentimento do primeiro: o medo primordial, natural.

 

Capítulo 3 – Novo milênio

 

Os anos foram se passando e eu, mesmo velho e com a saúde debilitada, ainda acordava no meio da noite com o suor frio e gelado, atordoado pela visão de Kong em meus pesadelos mais recorrentes. Tentava por diversas formas esquecê-lo ou ignorá-lo – mesmo após ter visto sua reputação e sua imagem manchada -, mas algo dentro de mim dizia que ainda haveria alguém que pudesse ter vivido ou entendido aquela experiência tão fascinante e daria uma nova cara ao monstro que agora já fazia parte de minha vida e meus temores.

O ano é 2005 e, após mais de 70 anos da aparição de Kong, um diretor chamado Peter Jackson (Fome Animal, Os Espíritos) dá novamente vida ao gorila ameaçador que nasceu em 33. Um misto de receio e pré-decepção me rodeavam antes de adentrar ao cinema e ver esta nova “aventura” do monstro. Como não havia expectativa nenhuma me surpreendi com a reimaginação de seu mundo, com o determinado avanço tecnológico, e o retorno da “violência” que fez Kong ser temido e respeitado. Não era para menos, já que é o filme da vida Jackson e o fez com todo o amor e carinho, projeto já antigo e que agora poderia dar a sua particularidade à obra de Cooper.

Escolha outra namorada para você, T-Rex!

Escolha outra namorada para você, T-Rex!

As referências são enormes, fazendo menção até do filme dentro do filme, como quando, em determinado ponto da história, a atriz Fay Wray é citada como indisponível por estar fazendo outro longa com a RKO Pictures, produtora do original. Já que toquei no ponto do elenco, este é de peso: Adrien Brody, Naomi Watts, Jack Black, Thomas Kretschmann, Colin Hanks e Andy Serkis são alguns dos nomes que podemos citar que dá um brilho extra à esta produção, fazendo-a destoar em meio aos outros três filmes lançados anteriormente. O cuidado foi tanto que há diálogos iguais entre ambas as produções e o roteiro é cheio de homenagens, mas a criatura com certeza teve um peso maior para ser feita e interpretada.

Lembro que na época em que o filme saiu, o diretor Peter Jackson já havia feito a épica e surpreendente trilogia de O Senhor dos Anéis e, como todos os filmes foram muito bem recebidos pelo público e elogiadíssimos na parte técnica, o mesmo se sentiu confortável e pronto para iniciar o projeto de sua vida e tributo do filme mais influente para ele. Muito do sucesso em que o longa se consumiu foi por Andy Serkis, cuja interpretação foi além do caolho cozinheiro e, através de 132 sensores presos em seu rosto, fez com que Kong pudesse receber trejeitos e formas mais humanizadas e assim se familiarizar e ter um relacionamento mais interpessoal com a personagem de Naomi Watts.

Como expliquei no capítulo anterior, O Filho de King Kong estabeleceu uma relação empática entre o ser humano e um ser que não necessariamente precisaria ser temido, e sim respeitado, e essa fórmula aqui se repete com a amizade que Watts e Kong formam, mesmo em meio ao terror e desespero que tomou conta dela no início do encontro. Com o domínio da técnica de CGI que fora aprimorada ao passar dos anos com suas experiências anteriores, a ponto de criar sua própria companhia de efeitos especiais, Jackson consegue entregar um trabalho não idêntico ao filme de Cooper, mas fidedigno, tanto que posso dizer que ele mesmo incorporou o espírito de Carl Denham em si próprio.

Vamos passear que hoje a cidade está vazia...

Vamos passear que hoje a cidade está vazia…

A megalomania o atingiu de tal forma que a versão final do filme possui incríveis três horas e vinte minutos. Muito se fez para se tornar um trabalho fiel e entendo este lado, mas ainda me pergunto o motivo para tanta história e enrolação que, em determinados pontos, se tornou enfadonho e desnecessário, haja em vista que a história de ambos os filmes é idêntica. Exemplo disso foi o desenvolvimento do Empire State Building que demorou “apenas” dezoito meses para ser concluída. Deu-se até ao luxo de chamar um amigo diretor, o Bryan Singer (Os Suspeitos, Superman: O Retorno) para dirigir a luta entre Kong e o T-Rex.

O filme de Peter Jackson está longe de ser ruim, mas para quem viveu o horror do daquela noite em 1933, está distante do espírito de terror, angústia e tensão que Cooper conseguiu transmitir, muitas das vezes, de forma realista e crua, em paralelo com o medo do desconhecido, do não convencional e do inexplorado.

Ainda este ano tenho a chance de revisitar o monstro em Kong: A Ilha da Caveira, e o ver como a criatura que me acompanhou a vida inteira envelheceu e, ao mesmo tempo, percebemos que o medo não vive sem o amedrontado, e a lenda passa de geração a geração, nos pesadelos mais íntimos de cada pessoa que ousa desafiar Kong.

 

Epílogo

 

Hoje, em meu leito de morte, vejo que King Kong fez com que pudesse ter uma outra visão do mundo e meu medo pudesse ser revisto. Lembro que em meados de 32 a 33, na rádio, algumas propagandas de sete minutos alertavam: “Cuidado com Kong! Kong está chegando” e eu, como jovem incrédulo que era, não acreditava que o medo fosse real e que minhas mãos ficassem trêmulas ao ver o curandeiro realizando a bênção para todos os convidados que adentravam o Royal. Vivi minha vida inteira em função do medo que senti ao ver Kong e talvez ele o tenha me mantido vivo por todos estes anos.

Clamo para que possa viver mais alguns dias apenas para revisitar A Ilha da Caveira, todavia caso não consiga, minha transição será em paz. Sei que ele, em algum lugar, também vive em função das pessoas que o lembram como o Rei dos Reis, A Oitava Maravilha do Mundo, o primeiro e único King Kong. Que este sentimento nunca morra e meu testemunho percorra o mundo para que as pessoas conheçam e compreendam o verdadeiro sentimento da inquietação, horror e aversão à um ser que pode ser descrito como um monstro ou simplesmente um espelho de nossos medos próprios.

Até mais ver, meu amor...

Até mais ver, meu amor…

Review 2017: #19 – Devil in the Dark

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Todo drama familiar é beneficiado pela inclusão de uma besta-fera mitológica fortemente nervosa.


“A magreza do Wendigo evidenciava sua emaciação, com sua pele desidratada firmemente puxada contra sua ossatura. Com seus ossos sendo forçados contra a pele, sua compleição na cor de cinzas e olhos empurrados para o fundo de suas órbitas oculares, o Wendigo se parecia com um esqueleto recentemente desenterrado de seu túmulo. Os lábios que tivera eram rasgados e sangrentos [….] Sujo e coberto de pústulas na carne, o Wendigo exalava um estranho e macabro odor de decadência e decomposição, de morte e corrupção.“

Basil Johnston, professor de Ojibwe em Ontario

É dessa forma que Basil Johnston descreve o Wendigo, criatura oriunda da mitologia nativo-americana e o demônio título de Devil in the Dark. Pertencente ao folclore dos povos Algoquianos, – que compreende uma enorme quantia de tribos nativas do continente norte-americano, especialmente da porção que contorna os grandes lagos e o litoral atlântico  – o Wendigo seria um humano corrompido pela prática de canibalismo, assassinato ou mesmo ganância desmedida, que se transforma em uma fera grotesca ou é possuído por um espírito maligno, em ambos os casos perdendo sua humanidade e tornando-se uma monstruosidade. Existe até uma síndrome psiquiátrica relacionada à prática da antropofagia, chamada de Wendigo Psychosis!

Já estampado no cartaz do filme, temos uma variação de tal monstro, que remete à sua representação mais recente e notável na cultura pop: contornos pretos, olhos vermelhos e com uma galhada de chifres de cervo, buscando inspiração total no Wendigo retratado na série Hannibal, nas visões de Will Graham. Apesar de ausente na descrição de Johnston, os chifres de cervo são característica recorrente nas aparições da fera, que varia em graus de humanidade. Essa referência está limitada ao cartaz, já que no filme em si a besta-fera possui alguns contornos mais característicos da lenda como descrita na passagem acima.

Devil in the Dark é um longa canadense comandado por Tim Brown, diretor pouco experiente mas versado na arte da produção, inclusive com alguns títulos de terror na bagagem. O roteiro fica por conta do estreante Carey Dickson, que também faz uma migração de outra área da produção de cinema e televisão.

A trama é centrada inteiramente na relação de dois irmãos, Clint (Dan Payne) e Adam (Robin Dunne), que buscam se reconectar após Adam ter se afastado por anos em decorrência de dificuldades no trato com o próprio pai. Para alcançar esse objetivo, embrenham-se na floresta para uma semana de acampamento e caçadas, aventura que termina com uma inversão nos papéis de caça e caçador. Conforme a situação dos irmãos na floresta se complica, memórias da infância de ambos vem a tona, construindo as particularidades dessa relação conturbada.

Participação especial de Kenny, diretamente de South Park

Participação especial de Kenny, diretamente de South Park

A cena de abertura do filme consegue encapsular muitas coisas que serão recorrentes ao longo de sua duração: pai e filho mais velho correm desesperados pela floresta escura, com uma iluminação quase nula proveniente de uma lanterna fraca, procurando pelo filho caçula que se perdeu. Encontram-no sozinho em uma clareira, observando em estado hipnótico a escuridão que se estende por entre as árvores. O labirinto de árvores sem iluminação suscita um medo primordial de vulnerabilidade e isolamento, que aqui é reforçado pelo pavor de se perder um ente querido – uma criança, mais especificamente -, para aquele ambiente hostil. Para o pai e para Clint, o primogênito, aquela fatídica noite na floresta foi apenas uma experiência muito ruim. Em contrapartida Adam presenciou o  sobrenatural que criou raízes profundas em seu inconsciente, permanecendo por lá durante toda sua vida e aflorando apenas com o retorno à essa floresta.

Após esse pequeno prólogo, há um salto temporal que nos leva para um futuro em que Clint e Adam são adultos e seu pai já bateu as botas. O mais velho seguiu todos os passos do pai, tanto em sua vida profissional, quanto familiar, mantendo até os mesmos hobbies. Já o mais novo distanciou-se por completo, assumindo uma vida que nos é mantida em segredo. Adam se reaproxima do irmão propondo uma viagem para aquela mesma floresta onde havia se perdido na infância, acreditando que aquela seria uma oportunidade de resolver conflitos do passado. No entanto, é uma força mais sombria, que se manifesta em seu inconsciente, que o faz voltar para aquele local ermo.

Uma porção considerável da projeção limita-se aos dois personagens interagindo conflituosamente durante a viagem, momentos esses intercalados por flashbacks que constroem um pouco mais dessa dinâmica durante a infância. A intenção aparenta ser construir gradativamente esse relacionamento, de forma a causar o maior impacto possível para o final, propósito alcançado, mas não sem vários percalços.   

O desenvolvimento dos dois personagens em uma convivência isolada é deveras repetitivo, caindo sempre nos mesmos questionamentos e provocações, onde o irmão mais velho acusa o caçula de não estar presente, enquanto o mais novo responsabiliza o pai falecido por todos os problemas. Além da repetição desse motivo, todos os pormenores de Adam são bizarramente omitidos, de forma que é impossível criar o vínculo esperado com o personagem. Os detalhes sobrenaturais que o cercam são justificáveis enquanto mistério, mas outros detalhes de personalidade são ocultados, deixando-o um personagem oco.

Esses dois elementos tornam o miolo do filme uma experiência lenta e arrastada, que parece não chegar a lugar algum, como se a floresta em si fosse um limbo existencial de onde só conseguiriam sair após lavar toda a roupa suja necessária. Considerando o quão difícil é encontrar um filme de horror contemporâneo com uma preocupação do tipo, de estabelecer um drama de personagens profundo e significativo, com boas performances, resta uma sensação de desapontamento com Devil in the Dark.

Floresta adentro, no alto de um platô, os irmãos se deparam com uma caverna cuja entrada fora adornada por incontáveis chifres de cervo, semelhantes ao do próprio Wendigo. Lá dentro vive a criatura monstruosa, que emite um urro de gelar a espinha e se locomove pela mata como se o chicote do demônio estalasse em seu lombo. Pouco se explora em relação à idéia do canibalismo ou da perda de humanidade. A impressão é de que a confusão e o rancor nutrido pelos irmãos os deixam suscetíveis a presença dessa força das trevas, que hora se manifesta na forma de um Wendigo bastante assustador, outras se manifesta por meio de possessão, sempre enfatizando o aspecto trevoso da criatura e daquele planalto macabro no meio da floresta.

Fortemente centrado em seus personagens, Devil in the Dark proporciona uma atmosfera envolvente, utilizando-se de tomadas aéreas e vários planos que destacam o isoladamente e a grandiosidade da floresta, que existe como um limbo existencial habitado por uma criatura diabólica. Peca na repetição e na perda de ritmo durante os momentos mais dramáticos, mas ainda mantém-se um filme interessante para os mais pacientes.

3 tiros de espingarda para Devil in the Dark

Violando o habitat natural de criaturas infernais

Violando o habitat natural de criaturas infernais

TBT #03 – O Monstro que Desafiou o Mundo

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Há 60 anos um molusco-verme marinho causava nos mares de Salton


Esse você deve se lembrar do saudoso episódio do Horrorcast (SDDS), hein?  E pense em um título exagerado de filme? O Monstro que Desafiou o Mundo! Esse molusco verme aquático gigante desafiou só uma cidadezinha costeira dos Estados Unidos, e olhe lá. Não teve nada de mundo não. Gente mais megalomaníaca…

Uma daquelas pérolas sci-fi dos anos 50, que sempre seguiam o mesmo padrão de uma época áurea de criaturas gigantes, medo nuclear e intervenção científica e militar, toda copiando a mesma fórmula para levar jovens as matinês e sessões duplas. Quem viu um, viu todos, uma vez que era de praxe alguma criatura pré-histórica que morasse em uma fossa abissal esquecida pelo tempo, voltar à vida por conta da mistura de um terremoto com testes nucleares realizados pela Marinha, próximos ao local.

Se você acha que viu isso já em Godzilla, ou O Monstro do Mar Revolto, não é mera coincidência, não. Tipo aquela deliciosa receita de bolo. Aqui, o bicho da vez teve seus ovos em estado de animação suspensa durante milhões de anos e resolveu chocar com um terremoto no Mar de Salton (que não é um mar de espumante, infelizmente). Um molusco que descende do lendário Kraken – mas que olha, deve ser um parente do interior bem distante e subnutrido, que ao invés de ser um polvo gigante, aqui é um caracol marinho anabolizado!

E os (d)efeitos especiais criados por August Lohman e Edward S. Haworth, claro, são uma piada hoje em dia. E olha que os envolvidos têm certa reputação na praça, pois Lohman havia trabalhado em Moby Dick e depois em Barbarella, por exemplo. O molusco aquático fica parado sempre no mesmo lugar, só mexendo seus olhos vesgos, as patinhas e as pinças na boca, de um lado para o outro. Parece mais um crustáceo que um molusco na real, ou um verme, criatura predadora, que se alimenta dos seres humanos sugando todo o líquido de seus corpos para se alimentar, vindo à tona para saciar sua fome. Agora a questão é: como um ser patético como esse pode desafiar o mundo inteiro, me explique? Ainda mais sendo

Solte o Kraken!

Solte o Kraken!

Mas o filme foi um baita sucesso de bilheteria (afinal, qual filme desse mesmo naipe não era naqueles idos inocentes?) e até que dirigido de forma redondinha por Arnold Levan, que arrisca uns planos interessantes de câmera e jogo de luz e sombra (veja a cena em que o velho sai para dizer às crianças para não nadarem na praia). Mais bizarro ainda é saber que ele foi baseado em fatos reais, até citado no filme: foi publicada na revista Life a descoberta de um ninho de ovos de um certo camarão pré-histórico extinto que fora encontrado em Imperial Valley, na Califórnia, logo após um lago secar.

Ah o filme né? No Mar de Salton, uma equipe de paraquedistas das Forças Armadas faz testes rotineiros saltando de aviões e mergulhando no mar, até que a criatura começa a fazer suas primeiras vítimas. O comandante da Marinha, John Twillinger (Tim Holt), responsável pela base no local, é quem deve investigar e tentar deter o monstro (que desafia o mundo), junto com o cientista, Dr. Jess Rogers (Hans Conried), e sua assistente viúva, que se transformará no interesse romântico do militar, Gail MacKenzie (Audrey Dalton). Isso vale fechar todas as praias, ao melhor estilo Tubarão (que foi lançando quase vinte anos depois).

Um grupo de mergulhadores da marinha consegue descobrir o ninho do moluscão e até roubar um ovo, que será analisado pelo Dr. Rogers em seu laboratório. Após explodirem a entrada da caverna para selar a saída do monstro, eles descobrem que a coisa é bem mais complicada que aparenta, pois há diversos canais aquáticos subterrâneos em que a criatura pode sair para outros lagos, e isso sem contar sua capacidade anfíbia de também andar pela terra firme em procura de alimento.

Nessa caça submarina eles até esquecem o ovo que está chocando de buenas no laboratório, onde Gail continua trabalhando normalmente e até levando sua filha pequena para acompanhá-la. É aí que o ovo eclode e quase mata as duas, sendo salvas pelo Com. Twillinger com seu extintor de incêndio, bem na hora H, enquanto o molusco furioso destruía a porta do armário de limpeza onde elas estavam escondidas e rezando por uma morte rápida. E o monstro foi vencido em seu desafio contra o mundo.

Tá, brincadeiras à parte com o título de O Monstro que Desafiou o Mundo, é sempre divertido ver esse tipo de filme naquela sessão bagaceira com os chegados, e com certeza este daqui é um dos que marcaram época, tendo uma legião de fãs, tanto que quando relançada a primeira edição do DVD, esgotou rapidinhos nas prateleiras e lojas online dos EUA, saindo em um DVD duplo junto com O Terror Que Veio do Espaço, e torna-se um sexagenário neste ano!

Here's molusco!

Here’s molusco!

 

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